NOTA: Livro ainda não disponível em português, mas alerta de spoiler da resenha, DEVERIA!

“Poderíamos dedicar nossas vidas a dar sentido ao estranho, ao inexplicável, à coincidência. Mas a maioria de nós não o faz, e eu também não.”

Imagine ser chamado ao escritório do seu chefe, que, aos gritos, exige uma explicação sobre o projeto que você entregou — só que, em vez de documentos técnicos, ele está repleto de obscenidades dirigidas a ele. É assim que começa Come Closer, o breve romance de horror psicológico da autora americana Sara Gran. A partir desse ponto, o livro conduz o leitor, de forma sutil, cadenciada e inquietante para dentro da mente de uma pessoa gradualmente dominada por uma força demoníaca.

 

Amanda é uma jovem arquiteta de sucesso vivendo com seu marido em um loft na cidade de Nova Iorque que vê pela frente um futuro onde a realização de seus sonhos parece ser apenas uma questão de tempo. Até que pequenas rupturas começam a aparecer: ruídos estranhos no apartamento, mudanças de comportamento, sonhos perturbadores. O tom do livro é de inquietação crescente, como no episódio em que um cachorro de rua antes acostumado às brincadeiras e o carinho de Amanda passa a reagir com puro terror à sua presença, a ponto de atacá-la ferozmente. Essa escolha narrativa, que coloca o leitor dentro da experiência de alguém lentamente perdendo o controle sobre a própria vida, a possibilidade de observar o terror não pelo lado de fora, e sim pelo ponto de vista do aterrorizado é o grande mérito da obra. Come Closer não busca provocar sustos, mas sim uma sensação de angústia diante da fragilidade da ilusão de controle que permeia não o sobrenatural, mas praticamente toda a nossa existência.

 

Mas nem sempre a intenção de um autor traduz com exatidão a vontade do leitor e Come Closer chega ao fim deixando na alma uma pontinha de vontade de algumas cenas mais sombrias com doses  bem dosadas de sustos além do desconforto gradual que marca a sua narrativa. Nada que faça da leitura uma experiência menos agradável. 


E se um livro é a soma de um final e todo o resto (sendo que em algumas grandes obras os dois são um e o mesmo), a cada virada de página a angústia da protagonista espectadora da sua própria derrocada se junta a incerteza do leitor diante da possibilidade de um final de história menos que satisfatório depois de um todo o resto se não perfeito, muito gratificante. Mas esse certamente, em letras maiúsculas, não é o caso. O desfecho se permite o grito insano, o surto finale engasgado na garganta durante o restante do livro e tudo e todos são jogados em um ventilador sobrenatural psicótico onde somos triturados pelos pecados onde somos todos mesmo sem saber o porquê, pecadores e vítimas.










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