A APOSTA

Que meus dias não passem

Por mim em vão
Sem fazer barulho
Sem acordar o mundo
Sem tesão, piedade ou perdão

Que eu não seja pequeno
Como o tempo
Ou apressado como o vento
Que meus erros
Sejam meus
E meus acertos
Não sejam em vão
Que meus tropeços
Aprendam com minhas lágrimas
A força de um recomeço

Que eu seja cada centímetro
De cada vazio de tudo
Que vale a pena ser
Cada pedaço retorcido
De um sorriso tímido
De um choro esquecido
Sem os quais
Eu, minha dor,
e minha vontade de ser feliz
Não fazemos o menor sentido

Que meus passos sejam fortes
E me levem pra onde
Eu não quero ir
Mas preciso chegar

E por fim
Que quando a vida se cansar
Do meu jeito ranzinza
Me permita morrer em festa
Daquelas que só tem razão de ser
No rosto de quem viveu em paz
Com todos os espelhos.